Na semana passadafortune tiger apk, o pregador Paulo Junior revelou que sua igreja o afastou do cargo pastoral e confessou: "Eu denunciei tantas vezes o pecado. Chegou a hora de denunciar o meu." Ele não foi exonerado por desvio de dinheiro ou imoralidade sexual, mas por abuso espiritual —nesse caso, liderar sua congregação com truculência.
A franqueza do confessor me fez ter esperança de que é possível levar a sério um problema antigo e protegido pelo silêncio. Será que o abuso espiritual começará finalmente a ser enfrentado?
jogo fortune tigerMas antes, o que é o abuso espiritual? É quando um líder religioso manipula, coage, explora, humilha ou controla pessoas usando a Bíblia, dons espirituais, título religioso ou qualquer vínculo espiritual, violando a liberdade de consciência da vítima. Como resultado, a pessoa é levada a crer que deve cumprir qualquer ordem como um dever espiritual inquestionável.
Em resumo, o abuso espiritual começa quando o líder exige obediência cega. Dentro desse sistema, dissidentes são punidos com ofensas, difamação e ameaças.
O abuso espiritual pode envolver violência emocional, psicológica, física ou patrimonial. Pode visar ganhos não religiosos, como ofertas financeiras obtidas por distorções de ensinamentos bíblicos, ou religiosos, como convencer membros a abandonar o emprego e servir "na igreja em que o poder de Deus (ou ‘avivamento’) está". Esse último exemplo pode parecer extremo, mas existem comunidades pentecostais e carismáticas formadas dessa maneira no Brasil e nos EUA, como é o caso envolvendo Mike Bickle, fundador de uma igreja chamada IHOPKC.
Como jurista, aconselho vítimas de abuso espiritual desde 2020, principalmente mulheres que buscam ajuda para se reerguer depois dos danos causados por lideranças abusivas. O problema independe de classe social ou nível de conhecimento teológico. Pessoas do meu círculo de amigos, familiares e até eu mesma já sofremos com líderes manipuladores.
Embora o abuso espiritual por si só não seja um crime tipificado pela lei brasileira, pode preparar o terreno para condutas como estelionato, ameaça, assédio moral e até estupro. E mesmo quando não há crime, a vítima pode buscar reparação na esfera civil como indenização por danos morais e materiais.
O problema dessa prática não se limita a como o líder age, mas também inclui a maneira como ele interpreta a Bíblia, enfatizando a culpa para controlar os membros da igreja. Isso cria um ambiente fértil para abusos. Às vezes, disfarçadas de zelo pela prática religiosa, pregações "duras" soam como compromisso com a fé. Em nome da santidade, fiéis são pressionados para estar em cultos em vez de reuniões familiares, ouvem que "depressão é falta de oração" e que recusar o voluntariado por causa do trabalho profissional é "não levar Deus a sério."
A discussão sobre abuso espiritual se popularizou nos últimos anos. Publicações como "Uma Igreja Chamada TOV" e "Quando o Narcisismo Invade a Igreja", pela editora Mundo Cristão, têm repercutido ao denunciar sistemas religiosos abusivos. O primeiro livro, aliás, foi citado como catalisador para que membros da igreja de Paulo Junior questionassem a cultura abusiva dentro de sua comunidade.
Colunas e BlogsA internet também acelerou essa conscientização. Gravei um episódio para o BTCast, o maior podcast de teologia do Brasil, que se tornou o mais ouvido do canal naquele ano. Até hoje recebo mensagens de quem conheceu o assunto pela primeira vez ali.
Na Bíblia, Deus trata o abuso espiritual com severidade. No Antigo Testamento, profetas exortaram falsos pastores que dominavam ovelhas com "rigor e dureza", fazendo-as se perder (Ez. 34). Quanto mais no Novo Testamento, depois que Jesus, o Pastor Supremo, se sacrifica pelas suas ovelhas! O apóstolo Pedro lembra que os pastores devem cuidar do rebanho sem ganância ou autoritarismo, imitando o sacrifício de Cristo (1Pe 5).
Por isso, encaro a quebra do silêncio com a esperança de que Cristo, o Bom Pastor, está purificando sua igreja. Falar sobre abuso espiritual não enfraquece as nossas comunidades; fortalece-as. Se queremos congregações mais bíblicas e saudáveis, precisamos romper com o silêncio e confrontar estruturas de poder distorcidas. Só assim refletiremos o coração de Jesus: numa comunidade de bondade.
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